sábado, 26 de abril de 2014

Semana de receitas de vó: LOMBO DA VO MARIA

Primeiramente gostaria de dizer que esta foi uma semana muito especial! Na cozinha eu tive oportunidade de reviver momentos únicos ao preparar quitutes de vó resgatados de uma infância deliciosa em Minas Gerais... Homenagear minha tia avó Dara e descobrir que tem muitas memórias de receitas clássicas da família que ainda podem ser revividas. Entender que a comida tem um poder inestimável na vida das pessoas.

Eu preparei a rosca da vó Dara que postei aqui para fotografar, testar a receita e dar todas as dicas... E como ela era maravilhosa, eu não podia vê-la na frente que já tirava uma lasca, é incontrolável! Com medo de engordar eu distribuí roscas: dei uma pra minha irmã, uma pra moça da loja aqui embaixo do prédio, outra pro cara do xerox, outra pra um amigo com quem fui tomar um café, uma pras minhas aluninhas queridas na sexta-feira de manhã e acabou que pra mim sobrou só uma lasquinha, assim mesmo como eu desejava! Mas então eu a enrolei em um filme plástico bem vedadinha e guardei. Hoje cedo a desenrolei, preparei um cappuccino cremoso e ali sentada na mesa eu revivi a cada mordida um momento de minha infância. Quando eu era pequena eu comia essa rosca desfiando... e assim foi que eu aprendi a testar a qualidade das roscas quando ia comprá-las.


Me lembro perfeitamente de na minha adolescência um dia estar em Minas de minhas férias e ao passear na rua me encontrei com uma senhora vendendo rosca na rua, ela passava ao meu lado quando senti um cheiro que invadiu meu coração: olhei para a rosca que era uma das grandes em linha reta, ela estava suculenta, douradinha e muito cheirosa e ela parecia desfiar, na hora comprei uma e experimentei um teco ali mesmo, na frente da senhorinha. Já logo pedi outra, cheguei em casa as duas roscas e contei a todos o que tinha acontecido. A Cidoca querida passou um café e nos sentamos as duas para experimentar a tal rosca. Em 5 minutos estávamos todos sentados a mesa tendo uma refeição em família no final da tarde... Hoje em dia é raridade sentar a mesa para almoçar ou jantar com os pais e, naquele dia acontecia inesperadamente que a rosca da senhora na rua teve o poder de interromper todos os afazeres para nos reunirmos envolta daquela mesa e tudo isso porque uma rosca bem feita daquelas traz a tona lembranças de carinho que nos fazem parar para degustar e relembrar.

E assim eu sempre penso que a comida ao entrar na boca envia mensagens de amor ao cérebro e resgata algum sentimento sobre cada sabor.

Eu não poderia terminar essa semana sem homenagear a mesma vovozinha querida com quem eu comecei: a minha vó Maria! Eita velhinha fofa! Vontade de apertar


Eu me espelho muito nela, a admiro inigualvelmente. Sei de suas lutas, de sua batalha de vida e assisti a forma com que ela se comunicava através da comida. Os anos de luta deixaram a vó Maria uma pessoa bastante rígida, tínhamos de andar na linha em sua casa, era uma casa de vó claro com regalias mas também regras... ainda que fosse brava quando se sentava a mesa transformava-se no doce mais doce que se podia ver. 



A mesa era grande, tinha cerca de 2,5 metros e com os pratos devidamente colocados já não cabiam mais as panelas de Dona Maria no centro da mesa. Eram muitas panelinhas... a tia Helena sentada na extrema esquerda da mesa queria descobrir o que tinha nas panelinhas da extrema direita ao lado do tio Enis e o tempo todo era um tal de passar pratos e panelas de uns para os outros de tal forma que todos degustassem todo o menu. E quando um prato estava com baixa popularidade a vovó o destacava mostrando a quem ela o tinha feito: “Adriana você pegou abobrinha com ovo? Tá aqui na panelinha, passa pra ela” – e nessa hora mesmo que eu já tivesse comido a mesa toda, estivesse satisfeita, eu tinha de comer aquela abobrinha com ovo. Não por obrigação, mas por amor, ela se lembrava do jeito que eu gostava da abobrinha e preparava ocasionalmente e especialmente pra mim.

Todos os pratos eram servidos quentes, isso até hoje me impressiona, lembrar como ela conseguia sozinha na cozinha soltar aquele almoço gigante... Revivendo o menu da Dona Maria seria: galinhada como prato principal e maior panela, vinagrete, banana frita, farofa, feijão, feijão batido (para tio Enes), abobrinha em rodela (para meu pai), abobrinha com ovo (pra mim), milho refogado, guariroba (para tio Josa), pele de frango frita (para tia Helena), salada de folhas (para meu pai), molho de salada (para tia Ena). Eram no mínimo 10 pratos servidos todos ao mesmo tempo e todos muito quentinhos!
Tinha também o menu em que o lombo recheado vinha como prato principal. Só posso dizer que este é o melhor prato que eu já comi e preparei na vida! Mesmo os mais refinados pratos franceses, mesmo o mais glamuroso prato do DOM não se iguala ao sabor e aroma deste delicioso lombo recheado da vó Maria.

No início de dezembro eu compartilhei aqui a receita desse prato porque nós mineiros descendentes da vó Maria o apreciamos ser degustado na noite de Natal, a noite predileta da vovó. E hoje eu revivo essa receita encerrando a semana de comida de vó com o prato que na minha opinião merece o OSCAR da cozinha mineira: Lombo recheado da vó Maria



Lombo caipira recheado da vó Maria

Ingredientes:
1 lombo caipira grande (largo)
6-8 limões cravo espremidos
1 colher de sopa de banha de porco caipira
600g de cebola picada em rodelas
1 colher de sopa de sal

Para o recheio:
2 batatas grandes cozidas al dente cortadas em cubos
3 cenouras cozidas cortadas al dente em cubos
250g de azeitona verde sem caroço picada
4 ovos cozidos

Modo de preparo:
Abra o lombo fazendo um caracol, de tal forma que ele fique parecendo um bife gigante (rss). Então disponha o lombo em uma assadeira, tempere com o suco de limão cravo e sal. Monte sobre ele uma cama de cebola, e passe um filme plástico e deixe na geladeira marinando. Após 6 horas de marinado, vire o lombo para que o outro lado também tenha contato com a cebola. Após no mínimo 12 horas de marinado, recheie o lombo.

Para o recheio: Cozinhe os legumes e os ovos, corte em cubos e misture, adicione um pouco do caldo da marinada (limão cravo).

Coloque o recheio no centro da carne e feche-a como se fosse um rocambole. Amarre com barbante ou costure as laterais da carne com uma linha grossa. Em uma panela aqueça o líquido do marinado com 1 colher de sopa de banha e regue o lombo. Leve ao forno baixo com papel alumínio, e a cada dez minutos regue-o com o líquido da assadeira.

Caso queira simplificar o processo, coloque o lombo para assar dentro de um saco próprio para assar e leve ao forno. Vire o saco a cada 30-40 minutos para garantir que o líquido rega a carne o tempo todo.
Após 2,5 horas retire o papel alumínio e deixe dourar, porém não deixe de regar! Se estiver usando um saco, retire-o do saco neste momento e deixe dourar e novamente: não de

Um comentário:

  1. Que texto mais bonito, Adriana! Adorei! E faz muito tempo que procuro uma receita para lombo de porco... e ACHEI!! Até sinto o cheiro da cozinha!! Obrigado! E as roscas irresistíveis!! Hummm, tô guardando a receita também!

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