Primeiramente gostaria de dizer que esta foi uma semana
muito especial! Na cozinha eu tive oportunidade de reviver momentos únicos ao
preparar quitutes de vó resgatados de uma infância deliciosa em Minas Gerais...
Homenagear minha tia avó Dara e descobrir que tem muitas memórias de receitas
clássicas da família que ainda podem ser revividas. Entender que a comida tem
um poder inestimável na vida das pessoas.
Eu preparei a rosca da vó Dara que postei aqui para
fotografar, testar a receita e dar todas as dicas... E como ela era
maravilhosa, eu não podia vê-la na frente que já tirava uma lasca, é
incontrolável! Com medo de engordar eu distribuí roscas: dei uma pra minha
irmã, uma pra moça da loja aqui embaixo do prédio, outra pro cara do xerox,
outra pra um amigo com quem fui tomar um café, uma pras minhas aluninhas
queridas na sexta-feira de manhã e acabou que pra mim sobrou só uma lasquinha,
assim mesmo como eu desejava! Mas então eu a enrolei em um filme plástico bem
vedadinha e guardei. Hoje cedo a desenrolei, preparei um cappuccino cremoso e
ali sentada na mesa eu revivi a cada mordida um momento de minha infância.
Quando eu era pequena eu comia essa rosca desfiando... e assim foi que eu
aprendi a testar a qualidade das roscas quando ia comprá-las.
Me lembro perfeitamente de na minha adolescência um dia estar
em Minas de minhas férias e ao passear na rua me encontrei com uma senhora
vendendo rosca na rua, ela passava ao meu lado quando senti um cheiro que
invadiu meu coração: olhei para a rosca que era uma das grandes em linha reta,
ela estava suculenta, douradinha e muito cheirosa e ela parecia desfiar, na
hora comprei uma e experimentei um teco ali mesmo, na frente da senhorinha. Já logo
pedi outra, cheguei em casa as duas roscas e contei a todos o que tinha
acontecido. A Cidoca querida passou um café e nos sentamos as duas para
experimentar a tal rosca. Em 5 minutos estávamos todos sentados a mesa tendo
uma refeição em família no final da tarde... Hoje em dia é raridade sentar a
mesa para almoçar ou jantar com os pais e, naquele dia acontecia inesperadamente
que a rosca da senhora na rua teve o poder de interromper todos os afazeres
para nos reunirmos envolta daquela mesa e tudo isso porque uma rosca bem feita
daquelas traz a tona lembranças de carinho que nos fazem parar para degustar e
relembrar.
E assim eu sempre penso que a comida ao entrar na boca envia
mensagens de amor ao cérebro e resgata algum sentimento sobre cada sabor.
Eu não poderia terminar essa semana sem homenagear a mesma
vovozinha querida com quem eu comecei: a minha vó Maria! Eita velhinha fofa!
Vontade de apertar …
Eu me espelho muito nela, a admiro inigualvelmente. Sei de
suas lutas, de sua batalha de vida e assisti a forma com que ela se comunicava
através da comida. Os anos de luta deixaram a vó Maria uma pessoa bastante
rígida, tínhamos de andar na linha em sua casa, era uma casa de vó claro com
regalias mas também regras... ainda que fosse brava quando se sentava a mesa
transformava-se no doce mais doce que se podia ver.
A mesa era grande, tinha
cerca de 2,5 metros e com os pratos devidamente colocados já não cabiam mais as
panelas de Dona Maria no centro da mesa. Eram muitas panelinhas... a tia Helena
sentada na extrema esquerda da mesa queria descobrir o que tinha nas panelinhas
da extrema direita ao lado do tio Enis e o tempo todo era um tal de passar
pratos e panelas de uns para os outros de tal forma que todos degustassem todo
o menu. E quando um prato estava com baixa popularidade a vovó o destacava
mostrando a quem ela o tinha feito: “Adriana você pegou abobrinha com ovo? Tá
aqui na panelinha, passa pra ela” – e nessa hora mesmo que eu já tivesse comido
a mesa toda, estivesse satisfeita, eu tinha de comer aquela abobrinha com ovo.
Não por obrigação, mas por amor, ela se lembrava do jeito que eu gostava da
abobrinha e preparava ocasionalmente e especialmente pra mim.
Todos os pratos eram servidos quentes, isso até hoje me
impressiona, lembrar como ela conseguia sozinha na cozinha soltar aquele almoço
gigante... Revivendo o menu da Dona Maria seria: galinhada como prato principal
e maior panela, vinagrete, banana frita, farofa, feijão, feijão batido (para
tio Enes), abobrinha em rodela (para meu pai), abobrinha com ovo (pra mim),
milho refogado, guariroba (para tio Josa), pele de frango frita (para tia
Helena), salada de folhas (para meu pai), molho de salada (para tia Ena). Eram
no mínimo 10 pratos servidos todos ao mesmo tempo e todos muito quentinhos!
Tinha também o menu em que o lombo recheado vinha como prato
principal. Só posso dizer que este é o melhor prato que eu já comi e
preparei na vida! Mesmo os mais refinados pratos franceses, mesmo o mais
glamuroso prato do DOM não se iguala ao sabor e aroma deste delicioso lombo
recheado da vó Maria.
No início de dezembro eu compartilhei aqui a receita desse
prato porque nós mineiros descendentes da vó Maria o apreciamos ser degustado
na noite de Natal, a noite predileta da vovó. E hoje eu revivo essa receita
encerrando a semana de comida de vó com o prato que na minha opinião merece o OSCAR
da cozinha mineira: Lombo recheado da vó Maria
Lombo caipira recheado da vó Maria
Ingredientes:
1 lombo caipira grande (largo)
6-8 limões cravo espremidos
1 colher de sopa de banha de porco caipira
600g de cebola picada em rodelas
1 colher de sopa de sal
Para o recheio:
2 batatas grandes cozidas al dente cortadas em cubos
3 cenouras cozidas cortadas al dente em cubos
250g de azeitona verde sem caroço picada
4 ovos cozidos
Modo de preparo:
Abra o lombo fazendo um caracol, de tal forma que ele fique
parecendo um bife gigante (rss). Então disponha o lombo em uma assadeira,
tempere com o suco de limão cravo e sal. Monte sobre ele uma cama de cebola, e
passe um filme plástico e deixe na geladeira marinando. Após 6 horas de
marinado, vire o lombo para que o outro lado também tenha contato com a cebola.
Após no mínimo 12 horas de marinado, recheie o lombo.
Para o recheio: Cozinhe os legumes e os ovos, corte em cubos
e misture, adicione um pouco do caldo da marinada (limão cravo).
Coloque o recheio no centro da carne e feche-a como se fosse
um rocambole. Amarre com barbante ou costure as laterais da carne com uma linha
grossa. Em uma panela aqueça o líquido do marinado com 1 colher de sopa de
banha e regue o lombo. Leve ao forno baixo com papel alumínio, e a cada dez
minutos regue-o com o líquido da assadeira.
Caso queira simplificar o processo, coloque o lombo para
assar dentro de um saco próprio para assar e leve ao forno. Vire o saco a cada
30-40 minutos para garantir que o líquido rega a carne o tempo todo.
Após 2,5 horas retire o papel alumínio e deixe
dourar, porém não deixe de regar! Se estiver usando um saco, retire-o do saco
neste momento e deixe dourar e novamente: não de
Que texto mais bonito, Adriana! Adorei! E faz muito tempo que procuro uma receita para lombo de porco... e ACHEI!! Até sinto o cheiro da cozinha!! Obrigado! E as roscas irresistíveis!! Hummm, tô guardando a receita também!
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