Já contei aqui várias histórias do meu “Fuça-fuça” na Cozinha. Desde o meu primeiro salário descente como Engenheira em 2008, o orçamento mensal tinha o item experiência gastronômica que algumas vezes era conhecer um novo restaurante, outras uma viagem gourmet, mas a minha experiência predileta mesmo era assistir aulas de culinária.
Em agosto de 2012 tive a enorme satisfação de assistir a uma aula de Hugo Delgado, mexicano enraizado no Brasil há 14 anos, empreendedor do restaurante Obá em São Paulo. Uma aula riquíssima que entre 3 receitas de drinks e 4 de pratos ele relatou como a culinária se estabeleceu após a Revolução Mexicana em que a independência do país se batizou com  a disseminação da comida de rua popular, mostrando ao mundo a verdadeira personalidade do mexicano. Com uma crise no abastecimento, a cozinha mexicana tem base em ingredientes frescos e abundantes: milho, abacate, tomates, ervas aromáticas e pimentas diversas.tacografia
Assim cada região tem como prato característico seu ingrediente localmente cultivado e os tacos presentes são como nessa “Tacografia”: o Norte do país na região da Baixa Califórnia tem-se tradicionalmente o taco de lagosta embrulhado em uma fina e grande tortilla; o extremo Sul do país na região de Chiapas consome-se tacos de formiga “chicatana” e assim por diante o país se divide em regiões gastronômicas mantendo sempre tacos, tortillas e burritos. Acompanhados de guacamole e sour cream estes sabores invadiram a vida dos brasileiros, adoramos!!!
Hugo Delgado contou ainda que o hábito de buscar peixes frescos aos monarcas que se deliciavam em comida europeia levou os pescadores a prepararem ceviches no barco, com  ingredientes que tinham ali: laranja, limão, peixe, sal, pimentas, cebola, cenoura. Assim o ceviche é bastante comum também na cozinha mexicana.
Aqui no Brasil os ícones da cultura popular mexicana prevalecem entre os pratos prediletos, porém conhecidos mundialmente pelo dom da criatividade como somos, acabamos sempre criando algo novo e “abrasileirando” tudo!
Adoro o fato de sermos criativos mas em alguns casos da gastronomia corremos erros brutais sem perceber as vezes. Acabamos “inventando” muito e perdemos originalidade… é comum ver receitas chamadas de mexicanas só porque tem abacate ou o próprio Nacho ser imensamente desqualificado a um “Doritos”, salgadinho de milho da Elma Chips.
E nessa linha de descobrir o que mais o brasileiro “inventou” de cozinha “mexicana” fui pesquisar o que aqui chamavam de Sour Cream, já que este é um ingrediente bastante escasso nos mercados brasileiros. E minha decepção foi bem grande pois há várias vídeo-receitas e posts na internet ensinando a fazer sour cream simplesmente misturando suco de limão ao creme de leite fresco e tem-se o “sour cream” em 15 minutos.
Sinto aqui desmistificar isso mas: o Sour cream é um creme de leite pasteurizado que ficou ácido via fermentação bacteriana láctica.
A fermentação do Sour Cream acontece a partir de uma cultura de bactérias e um certo tempo para que elas atuem (mínimo 12 horas). Foram muitas pesquisas, receitas, erros e acertos até chegar a uma receita caseira e fácil de Sour Cream.
A lista de ingredientes original recomendava o uso de “whole cream” ou “whipping cream” com 36-40% de gordura. Apesar dos rótulos brasileiros dizerem que o nosso creme de leite fresco tem 35%, muitas vezes isso não é verdade! E por isso a receita foi sofrendo adaptações para atingir a consistência desejada, porém sempre mantendo a técnica de produzir uma cultura e assim obter-se o creme azedo!admin-ajax.php
Sour Cream
Ingredientes:
500mL de creme de leite fresco
3 colheres de sopa de leite integral em pó
2 copos de iogurte natural integral
 Rendimento: 500mL
Modo de preparo:
1-    Misture o creme de leite fresco e o leite em pó em uma panela. Leve ao fogo até atingir 85 graus e o mantenha nessa temperatura por 30 minutos. Esse processo auxiliará no processo de dissolução do leite em pó e também por uma redução do creme o deixará na textura desejada com maior facilidade;
2-    Após os 30 minutos a 85graus celsius, espere até que a mistura atinja temperatura ambiente (25 graus) e adicione o iogurte. Misture bem com delicadeza para incorporar a cultura de iogurte ao creme.
3-    Cubra o bowl com um filme plástico e depois coloque-o em um recipiente quente mantendo a temperatura de 25 graus por 12 a 18 horas (eu enrolo em um cobertor e deixo em um canto da cozinha).
4-    Passado o tempo de fermentação, o creme estará com uma consistência maravilhosa e um saborzinho azedo delicioso, delicado e encantador! Leve a geladeira por no mínimo 2 horas, ele é mais gostoso gelado!
5-    Se quiser trazer mais leveza, bata com um fuet (batedor) o sour cream para incorporar ar, ele ficará aerado.