Primeiramente parabenizar a organização deste super-evento pela
divulgação da Culinária Brasileira, parabéns ao Estadão e principalmente ao
Luiz Américo Camargo, editor executivo e crítico do caderno Paladar, que
organizou cada detalhe pessoalmente.
Fiquei impressionada com todo o investimento que os
patrocinadores fizeram neste evento com o único fim de disseminar a cultura
gastronômica no público que gosta. Montaram uma estrutura super legal de um Mercadão
Paladar em que produtores apresentavam e comensais degustavam os produtos:
cachaças, queijos, carnes exóticas, castanha do pará, azeites, diversos
ingredientes brasileiros.
Daí nos corredores tinham ainda expostas máquinas, fornos,
panelas, cerâmica. E as salas de aula estavam ótimas, todas com água mineral a
disposição dos alunos, cadernos de anotação, receitas impressas, canetas em
cima das mesas. Super bem organizado!
As aulas foram ótimas eu fiz várias!
No dia 29/06 assisti a uma palestra sobre Pedro Nava, foi
bem interessante, ganhei um kit com 3 cachaças artesanais, uma produzida em
Paraty, outra em SP e outra em MG. Adorei! Vou levar pra Austrália! A Bia falou
pra eu levar para os chefs do Le Cordon Bleu que eles adoram! Só isso já valeu
grande parte do investimento do curso!
No dia 30/06 sábado tive uma aula oferecida gratuitamente
pela Estácio de Sá em que um chef francês mostrou uma receita de jiló! Foi
muito legal pq ele mora no Brasil a 2 anos e ainda tem sotaque bem “afrancesado”
e ele passou a aula tentando pronunciar JILÓ! Hahah Tadinho, ele está tentando!
Mas a receita ficou maravilhosa, eu consegui comer jiló de outra forma que não
fosse frito!
JILÓ FARCI - Chef Sylvian Dalle - Aula Desccoberta dos Sabores Brasileiros |
Este chef está no Brasil para garantir que em parceria com a
Estácio de Sá, a formação que leva o nome Allain Ducasse mantenha o padrão de
qualidade do restante do mundo. Eu não disse a ele, mas acho difícil conseguir
principalmente sendo a Estácio uma escola carioca. Eu quero deixar claro que não
tenho preconceitos, pelo contrário, adoro cariocas mas reconheço que tem alguns
meio malandrinhos pra trabalho!
Neste mesmo dia eu tive outra aula incrível: Memórias
Gastronômicas
A palestrante Guta Chaves foi a responsável por me colocar
no colo da Vovó Maria por alguns instantes no dia de hoje. Ela mostrou fotos de cozinhas de roça, como era a nossa na
fazenda... e eu me lembrei de fatos que estão aqui guardados sem muito aflorar
a tempos...
Quando éramos pequenas (eu e minha irmã) meu pai gostava que comêssemos
ingredientes de qualidade, por isso matávamos 2 bois por ano, um a cada seis meses
e congelávamos, comíamos em 4 (nossa família) carne de qualidade, criação
própria por 6 meses em São Paulo. “A carne de São Paulo é branca e sem gosto,
não presta!” – dizia minha avó. Então imagino que esta questão da qualidade dos ingredientes servidos em casa era preservada e disseminada entre os filhos que fez meu pai tomar aquela iniciativa de matar o boi para nos alimentar.
Minha avó era uma figura única no mundo! Ela tinha suas coisinhas, seus momentos, um deles que me lembro claramente é que não importava a
hora que chegasse na casa dela, podia ser 13hrs e ter acabado de almoçar, ao
menos um biscoito de polvilho ali em pé na cozinha tinha de comer, se não ela
ficava chateada. E isso não era só comigo, era com qualquer um que chegasse lá
para visita-la.
Me lembro da pipoca da Dona Zefa. Esta foi uma “figurinha” que
trabalhou anos com a minha avó, me viu nenêzinha, recém-nascida, e acompanhou nosso crescimento daí quando
tínhamos uns 9-10 anos ela descobriu que a gente gostava de pipoca... daí
pronto todo dia que a Dona Zefa estava na vovó lá ela fazia pipoca pra gente! Mas ela não sabia que horas iríamos chegar e queria garantir a pipoca pronta, então a vovó
colocava a pipoca em um saco de plástico e amarrava com uma tira de retalho
(fazia isso acreditando que manteria a pipoca crocante). Ela usava dentaduras e não podia comer pipoca então acho que ela nunca
soube que a pipoca estava sempre murcha... mas vovó e Dona Zefa não sabiam então ficavam
felizes pelo gesto de nos ter preparado aquela pipoca com tanto amor.
Mesmo depois que a Dona Zefa saiu da casa da vovó, ela ia lá
visitar e levava consigo o saquinho de pipoca amarrado com um retalho, como
fazia minha avó!
Daí a Guta Chaves também falou do milho! Ela comentou que o
milho já era importante aos Bandeirantes, que era uma produção rápida, eles
plantavam no caminho de uma expedição e logo no caminho de volta já tinham
milho grande para comer! A safra do milho aqui no Sudeste é de dezembro a
fevereiro, mas no Nordeste é em junho, por isso o milho é tão presente em
nossas festas juninas!
Lembro que no final do ano, dezembro/janeiro quando
passávamos férias de verão em Ituiutaba/MG a vovó ficava pedindo milho pra todo
mundo: todos os tios que tinham plantação ela pedia um pouco de milho em troca
de um pouco de pamonha. E todo mundo dava porque a pamonha da Dona Maria não
tinha igual!
E olha que até hoje eu não sei o sabor predileto de pamonha
da vovó, ela fazia todos! Ela fazia pra gente, pra família, não era pra ela!
Tinham doces, salgadas, algumas recheadas com queijo outras sem recheio e ainda
pamonha assada pro Tio Josa que eu sempre roubava um pedaço quando estava bem
quentinha porque era divina!
Parênteses para uma homenagem... Vovózinha queria que a senhora estivesse viva! Iríamos cozinhar
muito juntas! Uma pena que tive pouco tempo de convívio, mas foi suficiente
para saber que sua casa era um templo da gastronomia mineira e sua arte foi
única, abençoados aqueles que, como eu, puderam degustar do seu amor como tempero
principal de seus pratos.
Voltando ao Paladar, o evento me fez passar uma tarde
gostosa com a vovó e relembrar nossa infância... os tachos de cobre fazendo
goiabada e inebriando o ambiente com aquele perfume da goiaba cozida me enche
os olhos de água. Esta foi uma food experience? Não sei explicar, acho que talvez sim... Ao final comemos um mexidão! Quer mais mineiro? Mais "de casa"? Uma memória gastronômica, afetiva, cultural, não consigo expressar em palavras... (lagrimas)
Um dos tachos da vovó continua guardado comigo, muito bem
guardado, dorme ao meu lado todos os dias, guarda meus cremes e produtos que
alimentam minha vaidade, como a vovó sempre me pediu para olhar para minha
pele, meus cabelos, cuidar mais de mim.
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