domingo, 1 de julho de 2012

6º Paladar Cozinha do Brasil - Memórias Gastronômicas com Vovó Maria


Primeiramente parabenizar a organização deste super-evento pela divulgação da Culinária Brasileira, parabéns ao Estadão e principalmente ao Luiz Américo Camargo, editor executivo e crítico do caderno Paladar, que organizou cada detalhe pessoalmente.
Fiquei impressionada com todo o investimento que os patrocinadores fizeram neste evento com o único fim de disseminar a cultura gastronômica no público que gosta. Montaram uma estrutura super legal de um Mercadão Paladar em que produtores apresentavam e comensais degustavam os produtos: cachaças, queijos, carnes exóticas, castanha do pará, azeites, diversos ingredientes brasileiros.
Daí nos corredores tinham ainda expostas máquinas, fornos, panelas, cerâmica. E as salas de aula estavam ótimas, todas com água mineral a disposição dos alunos, cadernos de anotação, receitas impressas, canetas em cima das mesas. Super bem organizado!

As aulas foram ótimas eu fiz várias!
No dia 29/06 assisti a uma palestra sobre Pedro Nava, foi bem interessante, ganhei um kit com 3 cachaças artesanais, uma produzida em Paraty, outra em SP e outra em MG. Adorei! Vou levar pra Austrália! A Bia falou pra eu levar para os chefs do Le Cordon Bleu que eles adoram! Só isso já valeu grande parte do investimento do curso!

No dia 30/06 sábado tive uma aula oferecida gratuitamente pela Estácio de Sá em que um chef francês mostrou uma receita de jiló! Foi muito legal pq ele mora no Brasil a 2 anos e ainda tem sotaque bem “afrancesado” e ele passou a aula tentando pronunciar JILÓ! Hahah Tadinho, ele está tentando! Mas a receita ficou maravilhosa, eu consegui comer jiló de outra forma que não fosse frito! 
JILÓ FARCI - Chef Sylvian Dalle - Aula Desccoberta dos Sabores Brasileiros
Este chef está no Brasil para garantir que em parceria com a Estácio de Sá, a formação que leva o nome Allain Ducasse mantenha o padrão de qualidade do restante do mundo. Eu não disse a ele, mas acho difícil conseguir principalmente sendo a Estácio uma escola carioca. Eu quero deixar claro que não tenho preconceitos, pelo contrário, adoro cariocas mas reconheço que tem alguns meio malandrinhos pra trabalho!

Neste mesmo dia eu tive outra aula incrível: Memórias Gastronômicas
A palestrante Guta Chaves foi a responsável por me colocar no colo da Vovó Maria por alguns instantes no dia de hoje. Ela mostrou fotos de cozinhas de roça, como era a nossa na fazenda... e eu me lembrei de fatos que estão aqui guardados sem muito aflorar a tempos...

Quando éramos pequenas (eu e minha irmã) meu pai gostava que comêssemos ingredientes de qualidade, por isso matávamos 2 bois por ano, um a cada seis meses e congelávamos, comíamos em 4 (nossa família) carne de qualidade, criação própria por 6 meses em São Paulo. “A carne de São Paulo é branca e sem gosto, não presta!” – dizia minha avó. Então imagino que esta questão da qualidade dos ingredientes servidos em casa era preservada e disseminada entre os filhos que fez meu pai tomar aquela iniciativa de matar o boi para nos alimentar.

Minha avó era uma figura única no mundo! Ela tinha suas coisinhas, seus momentos, um deles que me lembro claramente é que não importava a hora que chegasse na casa dela, podia ser 13hrs e ter acabado de almoçar, ao menos um biscoito de polvilho ali em pé na cozinha tinha de comer, se não ela ficava chateada. E isso não era só comigo, era com qualquer um que chegasse lá para visita-la.

Me lembro da pipoca da Dona Zefa. Esta foi uma “figurinha” que trabalhou anos com a minha avó, me viu nenêzinha, recém-nascida, e acompanhou nosso crescimento daí quando tínhamos uns 9-10 anos ela descobriu que a gente gostava de pipoca... daí pronto todo dia que a Dona Zefa estava na vovó lá ela fazia pipoca pra gente! Mas ela não sabia que horas iríamos chegar e queria garantir a pipoca pronta, então a vovó colocava a pipoca em um saco de plástico e amarrava com uma tira de retalho (fazia isso acreditando que manteria a pipoca crocante). Ela usava dentaduras e não podia comer pipoca então acho que ela nunca soube que a pipoca estava sempre murcha... mas vovó e Dona Zefa não sabiam então ficavam felizes pelo gesto de nos ter preparado aquela pipoca com tanto amor.
Mesmo depois que a Dona Zefa saiu da casa da vovó, ela ia lá visitar e levava consigo o saquinho de pipoca amarrado com um retalho, como fazia minha avó!

Daí a Guta Chaves também falou do milho! Ela comentou que o milho já era importante aos Bandeirantes, que era uma produção rápida, eles plantavam no caminho de uma expedição e logo no caminho de volta já tinham milho grande para comer! A safra do milho aqui no Sudeste é de dezembro a fevereiro, mas no Nordeste é em junho, por isso o milho é tão presente em nossas festas juninas!

Lembro que no final do ano, dezembro/janeiro quando passávamos férias de verão em Ituiutaba/MG a vovó ficava pedindo milho pra todo mundo: todos os tios que tinham plantação ela pedia um pouco de milho em troca de um pouco de pamonha. E todo mundo dava porque a pamonha da Dona Maria não tinha igual!
E olha que até hoje eu não sei o sabor predileto de pamonha da vovó, ela fazia todos! Ela fazia pra gente, pra família, não era pra ela! Tinham doces, salgadas, algumas recheadas com queijo outras sem recheio e ainda pamonha assada pro Tio Josa que eu sempre roubava um pedaço quando estava bem quentinha porque era divina!

Parênteses para uma homenagem... Vovózinha queria que a senhora estivesse viva! Iríamos cozinhar muito juntas! Uma pena que tive pouco tempo de convívio, mas foi suficiente para saber que sua casa era um templo da gastronomia mineira e sua arte foi única, abençoados aqueles que, como eu, puderam degustar do seu amor como tempero principal de seus pratos.

Voltando ao Paladar, o evento me fez passar uma tarde gostosa com a vovó e relembrar nossa infância... os tachos de cobre fazendo goiabada e inebriando o ambiente com aquele perfume da goiaba cozida me enche os olhos de água. Esta foi uma food experience? Não sei explicar, acho que talvez sim... Ao final comemos um mexidão! Quer mais mineiro? Mais "de casa"? Uma memória gastronômica, afetiva, cultural, não consigo expressar em palavras... (lagrimas)

Um dos tachos da vovó continua guardado comigo, muito bem guardado, dorme ao meu lado todos os dias, guarda meus cremes e produtos que alimentam minha vaidade, como a vovó sempre me pediu para olhar para minha pele, meus cabelos, cuidar mais de mim.

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