Era um sábado ensolarado, dia 25 de agosto de 2012 e eu
passeava pelo mercado de Santo Amaro. Eu estava ansiosa, naquele dia eu
comemorava meus 30 anos completados no dia anterior. Tinha uma lista enorme com
ervas e plantinhas para decorar o local onde seria o almoço de aniversário e
ali em pé na floricultura eu te vi. Era um bebê, tinha somente uma mini
folhinha e por ela eu nem conseguia saber que se tratava da rainha das flores.
O floriculturista me disse ser um pé de mini orquídea que ele tinha plantado há
2 dias e que não iria vender. Pedi que me vendesse você, eu estava encantada e
queria me dar um presente de aniversário e você era o presente mais especial
que encontrei para me dar!
Peguei você no colo e te levei até em casa, ao chegar já
acomodada no seu vidrinho de pedras eu lhe sentei no meu colo e conversamos
pela primeira vez. Já logo percebi que você era das minhas e gostava de
carinhos pela manhã e abraços apertados ao anoitecer. Assim começamos a ter uma
relação de cumplicidade diária, eu tinha em você meu ponto forte e ao mesmo tempo
via você crescendo a uma velocidade impressionante. Minha viagem para a
Austrália em 5 meses já estava certa e sabíamos que aqueles encontros diários
deixariam de acontecer.
Você chegou a florir, deu uma linda flor amarela com detalhes
em rosa. A flor caiu, a haste ali continuou e nós cuidamos para que ela se
mantivesse viva e nos desse uma nova flor no ano seguinte. Cuidávamos muito uma
da outra.
Uma semana antes da longa viagem sentamos eu, você e papai e
eu pedi que vocês dois se cuidassem, que cuidassem um do outro na minha
ausência, vocês pareceram se dar bem. Papai era mais frio, eu sabia que você
sofreria, mas também sabia que os momentos de carinho que teria com ele seriam
de muita intensidade em que ambos estariam naquele momento lembrando de mim e
se sentindo acariciados.
Eu fui e você ficou... Confesso que por lá me lembrei de
você por algumas vezes, senti falta da minha amiga ouvinte e cheguei a abraçar
outras plantas buscando seu conforto, temia que você não estivesse mais viva na
minha volta pra casa.
Seis meses depois voltei a São Paulo, me lembro que após 24
horas de vôo no caminho pra casa com meu pai perguntei por todos os parentes,
amigos, todos estavam bem. E foi então que veio a pergunta: “papai, e as
plantinhas, estão vivas, o senhor cuidou delas?” – “cuidei sim, algumas
morreram” – Ele repondeu. “A orquídea está viva?”. “Não sei minha filha.” –
Papai já tem mais de 70 anos e nunca se aproximou muito das plantas, não sabe
qual é a orquídea, ainda mais que aquela em especial só tinha folhas grandes
por carinhos diários mas as flores ainda demorariam um tempo para vir.
Finalmente cheguei em casa e vi você: estava fraca, abatida,
porém viva e a minha espera. Eu te peguei no colo, alimentei, fiz carinho e fui
dormir com a certeza de que teríamos novamente uma a outra. Cuidei da sua haste
que estava começando a brotar, juntas pesquisamos formas de deixa-la em pé...
Quase um ano depois da minha volta surgiu uma nova viagem,
eu passaria 45 dias em Salvador durante a Copa do Mundo. Você já tinha
resistido por 6 meses, facilmente resistiria a minha falta por aqueles dias.
Recomendei cuidados ao papai e “partiu praia”! Confesso que
nestes dias não me lembrei de você, eu tinha a certeza de que estaria bem
cuidada.
Chegando novamente em casa após longa viagem te vejo num
canto, embaixo do tanque de lavar roupas, entristecida, cercada de outros 3
vasos mortos. Te peguei no colo, fiz carinho, pedi desculpas, mas já era tarde,
suas folhas estavam doentes.
Tentei por mais 2 meses te fazer voltar a vida, mas a doença
se alastrava em uma velocidade impressionante, sua haste já estava morta e você
precisava de outra vida para seguir, daquelas pedras você já não tirava mais a
energia. E foi numa mesma manhã de sábado que nos despedimos, eu escolhi te
prender na árvore e te doar para meus vizinhos. É triste saber que você não
está mais na minha mesa de café todos os dias, mas ao mesmo tempo sei que está
na minha calçada, preferi compartilhar seu sorriso do que perde-lo para sempre
em uma morte lenta e desleal.
Naquele 25 de agosto eu te pedi ao floriculturista porque
estava carente e precisava de atenção. Você também ali me olhou e pediu colo.
Hoje 2 anos depois seguimos nossos caminhos com a certeza de que tivemos os
objetivos cumpridos: nos fortalecemos nesta relação! Espero ainda ver suas
flores em um futuro próximo, agora que você é independente e vive abraçada a
árvore do jardim do prédio onde moramos eu e meu pai. Vou passar por lá sempre
que der pra dizer um “Oi”...
Adeus minha linda mini-orquídea!
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