Outro dia li uma frase muito interessante no Facebook: Sorte
é quando a preparação encontra a oportunidade (Elmer G. Letterman). E eu acho
que talvez eu esteja com sorte...
Estou ainda procurando meu lugar aqui em Sydney, tô que mexo
daqui, remexo dali e encontrei algumas agência de hospitality. Hum o que é
isso? Hospitality poderia ser traduzido como Hotelaria mas como esse termo no
Brasil ainda não tem a devida abrangência, prefiro deixar no portuguenglish pra
ser mais clara. Achei um negócio extremamente interessante, fui para a
entrevista já levando documentos para me contratarem. Eles me contrataram “na
carteira”, legalmente, e eles me oferecem trabalhos freelance (casual Jobs).
Funciona assim, quando eles precisam de mim, me ligam ou mandam mensagem de
texto, se eu posso, ótimo, vou e faço o trabalho, se não puder ir, tudo bem,
eles tem mais de 400 funcionários... Vão encontrar outro para suprir.
Fui, fiz a entrevista, fui convidada a um treinamento já
logo no dia seguinte que tratava de postura ética no trabalho, algo muito
rápido, descontraído, ministrado por uma das recrutadoras, ela só explicou como
funciona a parte do funcionário, esta que acabei de falar acima. Saí de lá com
uma dúvida: pra que tipo de empresa vão me mandar pra fazer um trabalho por um
dia?
Ao invés de perguntar, como sempre faço, deixei quieto e
esperei pra ver o que vinha por aí...
Alguns dias depois recebi a ligação deles para fazer um
trabalho em um tal de “Parliament”, falei, ué, deve ser algum restaurante
famoso daqui né? Que se chama Parlamento (aliás, excelente nome, curti a idéia
hehe!)... fui até lá sem criar expectativas, era uma quinta-feira chuvosa e
uau, era mesmo o parlamento, onde trabalham os parlamentares para o governo do
Estado de New South Wales, onde fica Sydney. Uau, estou na cozinha do Parlamento, pensei!
Me levaram a um andar e me apresentaram duas chefs e pronto,
ajude elas. Tá, pega aqui, corta, faz sanduiche, faz isso, faz aquilo, na
correria. E eu lá sem parar, mexendo, produzindo... Daí me chega uma das chefs,
peruana por acaso, e pergunta a quanto tempo trabalho com sanduiches. Era minha
primeira vez... falei a verdade. Ela disse que eu tinha muita habilidade com
aquilo. Agradeci, passou...
Trabalhamos juntas o dia todo e terminamos 30 minutos mais
cedo, segundo a outra chef porque sou muito espoleta e quero fazer tudo pra
ontem! A Izadora, chef peruana, sorriu e falou: “ótimo trabalho, adorei trabalhar com você
hoje, obrigada! Pode voltar amanhã?” CLARO!
E assim talvez a sorte tenha encontrado a preparação, talvez
eu esteja preparada para trabalhar com eles e eles para me empregarem!
Então antes de começar a descrever o trabalho maravilhoso
que é feito nessa cozinha, quero comentar sobre o negócio da agencia de
Hospitality, ela tem clientes enormes como escolas, governo, que são ricos e
provedores de serviços muito especiais e precisam ou contratar staff
terceirizado sempre ou tiveram um funcionário que faltou e precisam de alguém
para cobrir. Super interessante esse business ne? Imagina se no Brasil tiver um
desses pra Copa? O que mais os organizadores dos jogos vão precisar se não de
equipe treinada e motivada para atender a demanda durante o evento? De equipe
de portaria de estádio, limpador de banheiro a vendedor de sanduiches nas
lanchonetes.
Bom, mas quero mesmo é contar como é a cozinha do
Parlamento... claro, na minha visão, o que posso contar foi o que vi, o que
sei... pode ser que amanhã eu tenha outra visão sobre esta cozinha, mas este é
justamente o objetivo do blog, registrar a emoção do momento para que se um dia
eu quiser relembrá-la, ali está o post!
A divisão da cozinha que eu trabalhei foi “Larder section”,
em geral essa equipe cuida de saladas, sanduiches, wraps, parte fria. Eu fui lá
de “larder hand”. Nessa cozinha essa equipe se dedica a fazer sanduiches
naturais, tanto os que são vendidos no Café do Parlamento quanto os que são
oferecidos para eventos. Quando cheguei na 5a feira estava uma
correria, porque tínhamos de finalizar sanduichinhos para 3 eventos, cada um
com mais de 100 sanduiches de sabores bem diferentes. Os sanduiches naturais
tem sabores incríveis, são cortados em 4 na diagonal e servidos com o recheio
virado pra cima, como nessas fotos...
Os sanduiches para a Cafeteria são embalados como no
Brasil...
Essa divisão da cozinha fica bem atarefada de 7:30 da manhã
a 12:30, quando geralmente a equipe vai embora.
Todos os sanduiches são feitos com ingredientes super
frescos e selecionados, sabores bem elaborados que oferecem aquele crunch na
boca ao mesmo tempo que uma mistura de sabores que encanta qualquer um que se
delicie com aqueles sanduiches.
Alguns exemplos de sabores:
Roasted Chicken – frango grelhado em pedacinhos com pine
nuts, maionese de agrião, abacate e alface americana;
Smoked Salmon – salmão defumado com alface americana, cream
cheese, baby alcaparras e cebola roxa;
Chargrilled Seasonal Vegetables – vegetais grelhados
(berinjela, alcachofra e tomate seco) com hummus e alface americana;
Classic Egg Salad – Salada de maionese com ovos e curry e
mix de folhas;
Só sabores TOP! Hehe
Bom, então enquanto eu preparava todos esses sanduichinhos
eu observava o que acontecia na parte quente da cozinha... uma comida pra lá de
refinada era preparada... pelo que observei a maioria dos pratos eram europeus,
franceses e italianos basicamente. Não sei quantos são os parlamentares
atendidos mais todos os convidados. Cada parlamentar deve agendar almoço para
seus convidados, dessa forma, o restaurante sabe exatamente quantas pessoas ele
irá atender.
Cada prato é preparado como se fosse único. Quando tem um
público grande a ser recebido, vejo os chefs na cozinha contando várias vezes
os ingredientes, garantindo que tudo estará preparado para receber os clientes.
É tudo muito muito fresco, todos os dias recebem vegetais e frutas frescas,
tudo deve ser cortado quase na hora de servir para trazer ainda mais qualidade
ao produto final.
E um detalhe muito importante para mim: todos pagam pela
refeição e não é um precinho camarada não, é o preço justo pelo prato, um valor
que pague a qualidade dos ingredientes e também o valor do trabalho dos
funcionários que ali trabalham para garantir um prato maravilhoso a cada
refeição para o governo do Estado de New South Wales. Um exemplo de preço é 35
dólares em um prato que em qualquer restaurante estrelado de Sydney se pagaria
55 dólares. Pode-se cobrar esse valor porque o restaurante não tem fins
lucrativos, pertence ao governo, que não tem interesse em fazer dinheiro por
este meio.
Os funcionários que ali trabalham são em quase toda a
maioria de agências de hospitality. Somente 5 ou 6 chefs são funcionários da
casa, eles são a alma do negócio, ditam as regras, o restante dos funcionários pode
ser terceirizado e são! Distingue-se facilmente os funcionários do Parlamento e
os demais pelo uniforme que usamos. Os terceirizados se vestem de preto e os
demais com uniforme de chef, branco, dolma.
Acredito que esta experiência está sendo excelente para mim,
estou aprendendo muito sobre os alimentos, sanduiches que também é uma parte bem
importante da cozinha que talvez eu não fosse ter acesso mais adiante em minha
carreira. Aprendo diariamente sobre postura de trabalho, trabalho em equipe e
assim também fico observando o movimento dos Chefs. Já expressei a alguns deles
minha paixão pela comida e alguns fazem questão e ficam felizes em me contar o
que estão preparando.
Encerro o post dizendo que estou realmente ENCANTADA com a educação e delicadeza com que todos se tratam ali dentro. Não teve um só dia que o head chef não veio me agradecer pelo trabalho! Isso não é normal MESMO nas cozinhas no mundo todo... Pessoal educado, confiante do seu talento que não se importa em compartilhar conhecimento... esse é o melhor exemplo que já vi e é pra mim mais uma prova de que cozinha não é sinônimo de stress e falta de educação! Respeito, com respeito se conquista!
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" - Cora Coralina
Encerro o post dizendo que estou realmente ENCANTADA com a educação e delicadeza com que todos se tratam ali dentro. Não teve um só dia que o head chef não veio me agradecer pelo trabalho! Isso não é normal MESMO nas cozinhas no mundo todo... Pessoal educado, confiante do seu talento que não se importa em compartilhar conhecimento... esse é o melhor exemplo que já vi e é pra mim mais uma prova de que cozinha não é sinônimo de stress e falta de educação! Respeito, com respeito se conquista!
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" - Cora Coralina
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