Parecendo ou não loucura eu quis visitar o Amapá. Tenho
conhecidos em Macapá e achei que seria uma boa oportunidade de explorar a
gastronomia nortista! Eu me programei para passar um final de semana por lá
para explorar um pouco da gastronomia e cultura local. Estive lá no último
final de semana de novembro de 2012.
Chegando à cidade perguntei aos conhecidos locais que
poderia visitar durante o final de semana com riqueza gastronômica a ser explorada.
Ninguém soube me informar... Mudei a pergunta: tem um lugar bonito, legal,
gostoso para relaxar aqui perto? “Não, fica no Ibis Macapá, melhor solução”.
Diante dessa resposta e outras do gênero eu achei que deveria buscar novas fontes
de pesquisa. Me dirigi ao lobby do hotel, onde tinha um mapa enorme do Estado e
pedi um mapa turístico da região, ou algum mapa da cidade de Macapá e
infelizmente não encontrei. Acredito que
sendo esta uma capital turística deveria ter mapa nos hotéis e, considerando a
quantidade “enorme” de hotéis que tem lá, não seria assim tão trabalhoso. Achei
que a Secretaria de Turismo estava vacilando... então fui até lá buscar meu
mapa.
|
Centro de informações turísticas - Macapá (Setur.AP) |
É um lugarzinho bem fofo, na beira do Rio Araguari, com um
bondinho lindo que leva até a ponta do trapiche no meio do rio... chegamos e
logo pedimos ajuda e informação: surpresa e decepção foram grandes, os caras
não tinham mapa turístico para fornecer, segundo eles estava em falta. Mas
sinceramente duvido! Acho que nunca tiveram... Não me pareceu que aquela mulher que nos atendeu tinha amor
pelo seu Estado e pelas riquezas e belezas que ele tem, faltou patriotismo. E
então me veio o pensamento “se os amapaenses não gostam daqui, como é que
alguém vai gostar do Amapá?”.
Mesmo assim eu gosto do Amapá e fui teimosa: insisti! Pensei
que naquela região tão afastada deveriam ter fazendas, produções artesanais.
Porque no Amapá as distancias entre cidades são grandes, as estradas são ruins,
pouco pavimentadas, sem posto de combustível. Desta forma pessoas que vivem no
interior do Estado não têm fácil acesso aos produtos da capital, elas
deveriam ter produções próprias, subsistência falaria mais alto.
Eu voltei para a internet, lá podem ter informações
erradas e distorcidas: sim, sempre! Mas acho que vale o risco! Encontrei uma
matéria que dizia que na cidade de Amapá, tinha produção de queijo. Não sabia
se o queijo era de búfala ou de vaca... não sabíamos se poderíamos visitar as
produções ou não... se conseguiríamos ao
menos comprar o produto... teríamos de andar 350km de ida e depois 350 de volta
para ir até lá ver... decisão: vamos arriscar? SIM!
Pegamos a estrada, passamos por Ferreira Gomes,
Tartugualzinho e finalmente chegamos à cidade do Amapá. A primeira vista
encontramos uma paisagem linda de um açude seco, haviam quatro na entrada da
cidade, dois do lado direito e dois do lado esquerdo da “rodovia”, as do lado
direito já estavam secas, paramos para fotografar aquela imagem linda da terra
seca pelo sol formando pentágonos e hexágonos desiguais formando uma manta clara
e rígida sob o solo antigamente arenoso.
Depois desse cenário maravilhoso nos deparamos com uma
cidade de Faroeste, dos filmes americanos. Nosso carro era o único nas ruas,
haviam placas “vende-se Chop”, todas as casas estavam fechadas, os restaurantes
também, era 1:30pm não parecia um contexto estranho para a cidade turística que
descrevia a dica da internet. Eu estava com muita fome, já não conseguia
aguentar, precisava comer algo, que fosse um pão velho... começamos a
perguntar, na primeira disseram da Dona Edna mas não souberam indicar direito,
as ruas não tinham nomes nem números, achamos uma segunda pessoa na rua e perguntamos
onde era a Dona Edna e daí sim, chegamos a referencia foi “ali, onde está
parado um carro”, olhamos para a rua e havia um único carro parado na rua
inteira, isso que estávamos na rua da igreja.
Ao chegarmos, Marcelo desceu primeiro, verificou o cardápio e na volta, me convidou para entrar e me deliciar com o menu nortista especialmente feito para nós: pirarucu ao molho de
camarão, pato no tucupi, pato guisado ou ainda camarão a milanesa... Tudo
assim, um menu degustação totalmente desconstruído harmonizado com uma Kaiser
que ao menos estava bem gelada e era a única opção de bebida!
Menu Degustação no Amapá, by D. Edna, D. Nilda e D. Bene.
Iniciando os trabalhos de domingo com um impecável camarão empanado:
Este camarão não carregava o fundo do mar, ele parecia adocicado, o que fazia todo sentido já que era de água doce. Ele era grande, crocante, quentinho... hum!!! Tempero delicioso da Dona Edna, puro amor!
O prato seguinte foi um pirarucu ao molho de camarão.
Simplesmente amaaaaaazzzzzzinnng.
Quando chegou o guisado de pato, já estávamos de joelhos...
Como se o guisado não tivesse sido suficiente para suprir nossa necessidade pelo sabor e aroma nortista, lá veio o
pato ao tucupi patati patacolá...
Todos os pratos acompanhavam arroz e feijão... Mas isso não era só um feijão, era uma verdadeira feijoada... incluímos no menu degustação como prato único após o pato no tucupi.
Para
finalizar a obra de três irmãs que dominam como ninguém a arte da culinária
nortista Brasileira, uma belíssima Maniçoba de cozimento longo (12 dias!!!) com
arroz.
Esta é verdadeiramente uma obra de arte, é necessária uma dedicação e amor diários àquela panela cozendo o caldo que ainda não pode ser degustado pois é venenoso, o caldo da maniçoba...
Agradecimento especial ao fotógrafo deste post: Marcelo Sanglard.